Amanheceu um dia ensolarado e lindo, céu de brigadeiro, ótimo para viajar. Logo eu e Joaquim combinamos de pegar o primeiro voo, para o destino mais distante possível. Temos esse hábito recorrente aos finais de semana. Joaquim é um conceituado projetista de aeronaves. 

Eu preferia ir de carro, ou até de patins, mas cedi, já que ele me contou sobre um novo modelo de aeroplano que estava sendo utilizado no aeroporto local. Separei os documentos, dobrei os papéis, coloquei tudo que precisava em uma mala de mão e partimos.

Conseguimos assentos na primeira classe. Que divertido! A aeromoça nos serviu achocolatado com bolachas sabor brigadeiro. Era uma velha conhecida de Joaquim.

– Bom dia senhores. Sejam bem vindos ao voo 1993, rumo a Matinhos e região. Agradecemos a preferência e estamos aqui aos seus dispores – acrescentando ao meu amigo – Bom te ver novamente, Joaquim. Como você está crescido! Fazia muito tempo que não viajava conosco. Tenham um bom voo!

Reclinei a poltrona e olhei pela janela. O avião foi lançado em direção ao nosso destino. Começou a ganhar altitude, afastando passarinhos que vinham ao encontro. Outras aeronaves aguardavam na pista pelo sinal da torre de comando. Joaquim explicou como era complexo o controle de pousos e decolagens. 

Passageiros de outras nacionalidades estavam sentados próximos de nós.

– Peueu preprepefepiripaa pojopargar pufupetepolbol! – falou um rapaz albino em uma língua incompreensível.

Depois de um tempo meus olhos ficaram pesados. Ver Joaquim falando sobre todas as especificidades técnicas me deixava cansado. Ele é um bom amigo, mas nem sempre deixa os outros participarem. Eu estava pronto para interrompê-lo, quando ele gritou.

– Se segurem! Se segurem!

 O avião, então, fez uma pirueta completa, e continuou seu traçado perfeitamente. Todos batemos palmas de alegria. Tão divertido!

A viagem transcorria pacificamente, quando nuvens começaram a se formar. Algumas com formatos engraçados. Dinossauros. Dinossauros andando de patins. Gatos alados correndo atrás de camundongos. As nuvens aumentavam sua intensidade e mudavam de cores. O branco dava vez ao cinza. O vento fazia a asa trepidar. 

– Senhoras e senhores, apertem os cintos, pois estamos passando por uma zona de turbulência – avisou o piloto.

– Fique tranquilo, meu amigo, que essa aeronave foi construída com o que possuímos de mais avançado em tecnologia aeroespacial. Observe a dobra na asa! Permite uma aerodinâmica toda especial – bateu no peito o projetista.

Não fiquei muito convencido, mas Joaquim era respeitado no meio. Alguns anos atrás recebeu um prêmio por suas construções na feira de ciências.

Os primeiros pingos começaram a cair, e com eles o avião parecia estar prestes a derreter. A chuva crescia e a aeromoça veio conferir se estávamos bem acomodados. Eu disse que não havia problemas. Estávamos quase chegando ao destino. Raios e trovões pintaram o céu. Tudo tremia. Os tripulantes começaram a correr desesperados. Joaquim estava confiante de que nada de ruim aconteceria, e continuamos firmes observando o horizonte. 

A aeromoça gritava de dentro da cabine. O piloto também passou a nos chamar. Histéricos! Não entendo porque fazem tanto escândalo por causa de uma chuvinha. Despreocupados, eu e Joaquim não percebemos o avião colidindo no chão, já que a aeromoça nos puxava pela orelha, dizendo que o almoço já estava servido.

Avião

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2 thoughts on “Aerodinâmica

  • Ana maria larini 16 de maio de 2022 at 13:26

    Achei taaao fofo! Lembrei da minha infância indo pra praia. Sempre o mesmo tudo hehe e agente também viajava na maionese, até um irmão invisível a gente tinha.
    Se era a sua intenção, obteve com sucesso 😉

    • Guilherme Eisfeld 16 de maio de 2022 at 14:21

      A ideia era essa mesmo. Transpor brincadeiras infantis, de forma que parecessem em parte algo real, mas mostrando absurdos e estranheza. Praticamente uma viagem na maionese 🙂

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